A história do Parafuso remete ao período colonial, no cenário dos engenhos, onde escravos sonhavam com a liberdade para escapar do sofrimento. Procurando chegar ao quilombo, escravos em fuga, usavam as roupas das sinhás, roubadas dos varais para camuflar o corpo. Colocavam peça sobre peça até atingir o pescoço, pintavam o rosto com tabatinga e por fim usavam um chapéu em formato de cone, igualmente branco. Assim, nas noites de lua cheia se arriscavam pelos canaviais despertando o imaginário popular, que consideravam estar vendo assombrações. Os comentários se multiplicavam e o medo também.
Depois de passado o fim da escravidão, a mística fantasmagórica acabou, mas permaneceu a tradição com um grupo de negros saindo às ruas, rodopiando na cadência de tambores e triângulos que marcavam o ritmo alucinado. As vestimentas brancas que formavam um contraste com sua pele negra, chamaram a atenção do vigário de Lagarto, o padre José Saraiva Salomão, que comparou o movimento dos brincantes ao de um parafuso, observando o rodopiar no sentido horário e anti-horário, parecendo, assim, torcer e distorcer. O que foi um movimento de resistência à escravatura se tornou um folguedo de grande beleza, característico do município de Lagarto.